domingo, 21 de outubro de 2012

V1DA L0K4


Subi para o ônibus e vi os dois últimos bancos vagos. “Sento bem no fundão?” pensei eu. Mas no fim decido sentar no penúltimo banco. Péssima escolha. Logo na outra parada o sujeito entra pela porta de trás (quando o certo é entrar pela porta da frente, ou seja, não pagando passagem) e senta bem atrás de mim. Já o conheço. Infelizmente... Morava uma rua atrás da minha, antes de eu mudar de bairro a uns anos atrás. A última vez que o vi, foi quando fiz um gesto cumprimentando um colega na rua e ele achou que eu estava o cumprimentando. Veio tirar satisfações. Para me salvar tive de dizer que “como não se lembra de mim? Da vila, tu mora ali na rua tal ainda? Se lembra do fulano? E sicrano?”. Pois é... Daquela vez eu me safei... Mas não sabia se iria me safar dessa vez. Se trocasse de lugar isso já poderia ser motivo para problemas. Resolvi ficar na minha, colocar os fones de ouvido. E rezar...

Logo ela já vai puxando papo com o cara do outro lado do corredor, dizendo que havia saído da cadeia, mas que pelo menos havia valido a pena. Valido a pena. “Literalmente” pensei eu. E ri sozinho. Na outra esquina ele já coloca a cabeça na janela, gritando para alguém. E eu ali, rezando para não sobrar pra mim. Rezando para que ele descesse na próxima parada. Não acontece...

O ônibus vai seguindo... Quase em casa... Falta pouco! Até que ele pergunta pro rapaz do lado: “Muito vento ai?” e o cara responde negativamente. Logo penso “o próximo sou eu”. Passam-se alguns segundos e nada acontece. Quase respiro aliviado, quando de repente, um cutucão no meu ombro... Olho para trás e ele diz: “Muito frio aí?” e eu digo “Não”. Ele sorri e diz: “E aí cara, lembra de mim?”. Já vi essa cena antes, em algum lugar... Ele me reconheceu. Pois é... Vamos lá: “Tudo beleza?” pergunto. Algo me diz que não deveria ter puxado assunto. 

Vamos trocando umas e outras frases até que ele me diz que saiu da cadeia na quinta passada. Todos do ônibus me olham. Pergunto onde ele tava morando. Diz que em outro bairro, mas que ainda tem casa lá onde eu morava. Pergunto como estão as coisas lá. Ele diz que “mil graus”. Eu digo que sempre está e ele diz que tem que ser... “Tem que dominar geral, senão já tem que chegar no tiro”. Todos nos olham. Penso nesse maldito motorista que não chega logo na minha parada. Faltam poucos quarteirões... Penso em descer algumas paradas antes. Penso no que responder pra ele agora, penso na minha vida, e digo: “É, tem que ser...” Todos do ônibus ME olham agora! Sim, acabei de concordar com ele que tem que chegar no tiro geral. Não sou bom em pensar rápido...

Quase em casa... E ele não perde tempo. Acontece o que eu já esperava: Ele me pede dinheiro. "Tem uns dois pila pra me apoiar?" Dou meu último um Real jurando que é só o que tenho. “Se tiver dois reais é melhor”. “Não, só tenho isso ou vale escolar”, respondo. Ele agradece incessantemente e diz que está indo pra casa da vó que está doente. Três paradas antes da minha eu me levanto, digo que vou descer. Estimo melhoras para sua vó e fico de pé na porta, suplicando em pensamento ao motorista que chegue logo na minha parada. Finalmente puxo a cordinha, e desço, quase correndo, um real mais pobre, mas a salvo. E a V1D4 segue, cada vez mais L0K4.

Um comentário:

Anônimo disse...

Oiee,
te marquei em uma TAG.
Dá uma olhadinha lá no meu blog. http://umamulheraprendiz.blogspot.com.br/2014/01/tag-11-coisas-sobre-mim.html

Beijos